domingo, 20 de março de 2011

Viajo



Viajo

Imagino vidas diferentes

Agarro a borracha mágica mas

Nem essa consegue apagar os momentos que persistem na mente

Da vida vivida

Folha de papel amarrotada

Escrita ao sabor da mão que me passou pela pele

Esquecida num caderno amarelecido pelo tempo

Gasto nas viagens da memória

Mas persisto em viajar

Tenho sede e fome

Dos carinhos idos no tempo

Anseio sorrisos

Perdidos no cruzar das memórias

Neste viajar

E teimo em perseguir no caminho

Vou além do destino traçado

Alma perdida

Em qualquer estação

Esperando recomeçar

BF


(foto minha)

sexta-feira, 18 de março de 2011

Lunar


"Uma brisa ergue-se do interior da terra e chega a mim, à consciência de mim: o meu rosto, os meus lábios, o meu corpo tocado por essa brisa. Caminho por entre essa brisa a passar por mim, como se atravessasse uma multidão invisível. A brisa, ao tocar os meus olhos, transforma-se em lágrimas que descem frias pelo meu rosto. Os meus lábios. Sinto-as e sinto a memória das vezes que chorei o desespero parado, mais triste, de lágrimas que descem lentamente pelo rosto. O tempo passa por mim como qualquer coisa que passa por mim sem que a consiga imaginar e as lágrimas, que eram apenas a brisa a tocar os meus olhos, começam a ser lágrimas de desespero verdadeiro..."

(José Luís Peixoto)


Imagem minha


quarta-feira, 16 de março de 2011

Em solidão


Cada vez me sinto mais isolada, pelo bando que vagueia na cidade.
BF

Imagem minha

segunda-feira, 14 de março de 2011

Raízes

Estas raízes são braços fortes que me prendem

….Terra árida

Um dia quis geminar em ti e encontrei vazio,

Porque a seiva que me alimenta já não me toca o coração

E a meiguice nas palavras mais não é que encobrir um não querer

Desnudar o sentir…

Quando desejei cobrir-me de folhas,

E ainda, na primavera da vida,

Florir para ti.

Hoje sou estas raízes velhas

Que sentem o momento do desprender de cada folha

Que ficou planando ao vento

E acabou pisada no chão

…Meu sentir

Ainda sinto a terra a prender-me.

BF

(foto minha)

sábado, 12 de março de 2011

Um Novo Abril



Hoje vi uma semente de Abril
Renascida,
Plantada por gerações inconformadas.
Germinou pelas ruas das cidades
Desta pátria,
Para tantos adormecida…
Acordou!
Ganha forças e prossegue
Semente regada pelo direito á dignidade
De viver … Em plena
Humanidade
Ainda resta esperança!
BF

Foto minha 

terça-feira, 8 de março de 2011

Mulher da Minha Vida

Sou a raiz que te prende á terra

Ramos braços que te resguardam

Despojo-me de tudo

Para de tudo te proteger

Desfaço-me por ti e por ti me ergo

Sou parte de ti na roda da vida

Coragem e lágrima que cai

Folha que o vento abana

Mas não deixa cair

Carícia na tua pele

Alma, mão, saudade, amiga

Porta sempre aberta para poderes entrar

E o sonho é ter-te sempre ao alcance de meus braços

Serena

Acompanhando o teu voar

BF

Que a tua escada da vida seja sempre a subir. Te amo

domingo, 24 de outubro de 2010

A Taça


És taça de paixão
Esse vinho que engulo num trago
Alcoólica sedenta da seiva que me dá vida
…. E me tira os sentires
Destorce os caminhos…e agarra
Qual sobrevivente a taça…
A paixão que ficou no fundo …qual trago esquecido.
E a espera é a constante certeza….
A Taça
A Ilusão com que me acenas
O trago bebido a dois….

BF

(foto Pedro Filipe)

domingo, 17 de outubro de 2010

Continuo por aqui ....devagar


Vim na alquimia do teu sentir

nas peugadas fincadas

do peso da vida com que marcas o caminhar...

Vim na ânsia de aliviar a dor

que o teu olhar espelha

reflexo da escuridão que em ti permanece

Por um feixe de luz

Por um abraço

Por um simples olhar

Vim

E continuo aqui.


BF

(foto minha, janela do castelo de palmela)

domingo, 3 de outubro de 2010

Um novo quadro

Marca a folha que cai com a tinta do teu olhar
Guarda a tela na moldura da memória
O Outono é mais uma das exposições da tua vida
E a vida, a tua vida é sempre uma obra de arte
Que vais pintando com o pincel dos sentimentos
E as cores da alma
A cada estação refazes o quadro
Repintas a vida
Com as vivências que guardas em ti.
BF

sábado, 25 de setembro de 2010

Estava na hora de voltar....

Sabes!
O amar é raio que por vezes te deita ao chão...e queima... e dói.
Outras vezes é mágico. Qual pó de perlimpimpim...ficas nas nuvens e rebolas e saltas e voltas a rebolar. Alegre mágica essa.
Sabes!
Por vezes achas que já amaste tudo... queres descansar. Ficar em paz.
Outras vezes precisas de sentir aquilo que toda a gente diz que sente...mas que não sabes muito bem como é.... as borboletas na barriga.
Sabes!
Essa das borboletas na barriga deve ser mágica mesmo! Será que fazem cocegas? um dia vou perder o medo das borboletas. Apanhar uma mão cheia e, num prado qualquer, deixar que elas passeiem pela minha barriga. Talvez descubra essa forma de sentir... o Amar....
Tu Sabes!
BF

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Água viva



"Assim como todas as portas são diferentes
aparentemente todos os caminhos são diferente
Mas vão dar todos no mesmo lugar
O caminho do fogo é a água
Assim como o caminho do barco é o porto
O caminho do sangue é o chicote
Assim como o caminho do reto é o torto
O caminho do risco é o sucesso
Assim como o caminho do acaso é a sorte
O caminho da dor é o amigo
O caminho da vida é a morte"

(Rauel Seixas - Paulo Coelho)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Natal Com Muita Paz

Não há caminho para a paz, a paz é o caminho.
"Gandhi"

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Cinzas


Esquecidas ficam as cinzas
No rescaldo deste inferno
Ardemos inteiros
Sugados por negras labaredas
Inferno sem fim
No âmago de nós

Cegos de Luz

Esgrimimos o destino
Com espadas sujas
Das veias cortadas
Com golpes certeiros
E esperamos vencer
Quando vencidos nos vemos

Salpicadas ficam as cinzas
BF



Imagens de um pescador :):)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

domingo, 8 de novembro de 2009

A Saudade é um grito de Liberdade...



A Saudade é um Grito de Liberdade….


Hoje. Num percurso de autocarro que não leva mais de 5 minutos. Logo que entrei os vi. O tipo de passageiros sobre os quais aviso a minha filhota para que não se aproxime, etc, etc… do alto do meu preconceito, da minha mesquinhez. Dois homens, de idade difícil de determinar, que em pé, com a postura de direito por viverem no limbo social, dificultavam a passagem a quem queria aproximar-se da saída. As suas vozes eram sonoras, demonstrando a pouca importância que davam aos outros passageiros. Um deles recordava passagens de uma vida, que fora a sua e que agora ficava longe. As memórias vinham à tona. Entre histórias passadas com os avós em Câmara de Lobos, e considerações sobre a sua própria pessoa, chamou-me a atenção a frase que se lhe desprendeu dos lábios:
“… A Saudade é um grito de Liberdade…” “…porque recordar com saudade é o mesmo que voltar a viver, é como se estivesse lá de novo…”

A minha paragem chegou. Saí a pensar. A frase a martelar na minha cabeça. As voltas que a vida dá. Quantos gritos de liberdade nos entoam a mente sempre que passeamos pelos prados da memória, sempre que sentimos saudades!
BF

domingo, 1 de novembro de 2009

Al Berto /Jorge Palma





tocas as flores murchas que alguém te ofereceu
quando o rio parou de correr e a noite
foi tão luminosa quanto a mota que falhou
a curva - e o serviço postal não funcionou
no dia seguinte

procuras ávido aquilo que o mar não devorou
e passas a língua na cola dos selos lambidos
por assassinos - e a tua mão segurando a faca
cujo gume possui a fatalidade do sangue contaminado
dos amantes ocasionais - nada a fazer

irás sozinho vida dentro
os braços estendidos como se entrasses na água
o corpo num arco de pedra tenso simulando
a casa
onde me abrigo do mortal brilho do meio-dia

al berto
in O medo

sábado, 24 de outubro de 2009

Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira.

Uma Janela da Minha Infância...
Esta casa, outrora, no meu tempo de menina, tinha vida…muita vida. Era ocupada por uma menina e um menino que comigo brincavam no ribeirinho de água. Hoje, as pedras que serviram de abrigo familiar, dentro das quais tanto brinquei, apenas sentem o leve pulsar da hera que aos poucos lhes vai revestindo o corpo escondendo de olhares. Para além das vidraças, também da minha memória, o Marquito e a Susaninha sorriem. Saudades. Ciclos que se fecharam.
BF

“…Enquanto não encerramos um capítulo, não podemos partir para o próximo. Por isso é tão importante deixar certas coisas irem embora, soltar, desprender-se. As pessoas precisam entender que ninguém está jogando com cartas marcadas, às vezes ganhamos e às vezes perdemos. Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é."

Fernando Pessoa

imagem BF

domingo, 4 de outubro de 2009

Mercedes Sosa




Partiu Hoje ...fica a VOZ

domingo, 13 de setembro de 2009

Conheço o Sal

Conheço o sal da tua pele seca
depois que o estio se volveu inverno
da carne repousando em suor nocturno.

Conheço o sal do leite que bebemos
quando das bocas se estreitavam lábio
se o coração no sexo palpitava.

Conheço o sal dos teus cabelos negros
ou louros ou cinzentos que se enrolam
neste dormir de brilhos azulados.

Conheço o sal que resta em minhas mãos
como nas praias o perfume fica
quando a maré desceu e se retrai.

Conheço o sal da tua boca, o sal
da tua língua, o sal de teus mamilos,
e o da cintura se encurvando de ancas.

A todo o sal conheço que é só teu,
ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,
um cristalino pó de amantes enlaçados.

Jorge de Sena

(imagem roubada com estilo a um companheiro de viagem)

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Balada de Lisboa



Em cada esquina te vais
Em cada esquina te vejo
Esta é a cidade que tem
Teu nome escrito no cais
A cidade onde desenho
Teu rosto com sol e Tejo

Caravelas te levaram
Caravelas te perderam
Esta é a cidade onde chegas
Nas manhãs de tua ausência
Tão perto de mim tão longe
Tão fora de seres presente

Esta e a cidade onde estás
Como quem não volta mais
Tão dentro de mim tão que
Nunca ninguém por ninguém
Em cada dia regressas
Em cada dia te vais

Em cada rua me foges
Em cada rua te vejo
Tão doente da viagem
Teu rosto de sol e Tejo
Esta é a cidade onde moras
Como quem está de passagem

Às vezes pergunto se
Às vezes pergunto quem
Esta é a cidade onde estás
Com quem nunca mais vem
Tão longe de mim tão perto
Ninguém assim por ninguém


Manuel Alegre, in "Babilónia"

domingo, 23 de agosto de 2009

Momentos


Recuo
Passo ao lado do que sinto
A vida condiciona-me a forma e o querer
Preciso do tempo
Aquele
Que deixei passar sem o querer sentir
Mas esse passou
Já não o consigo recuperar
Hoje
Tento viver novos momentos
Projectados no espelho do passado
Reflexo do sonho que pensava realizar
Sonho
Que se tornou difuso
Nas memórias de tantas horas
De infindável espera
Matei-o
Nas águas turvas em que bebi
Pequenas gotas
Na sofreguidão da secura desta vida
O olhar
Que não consegue captar
O brilho das estrelas
Cintilantes no firmamento
E o coração
Que sente sempre a melancolia
De uma noite de escuridão
Atrás de umas tantas que passaram
E tenho sede
E fome de quer
Agarrar uma nova claridade
Iluminar este viver

BF
Imagem Bigmac - Olhares.com

sábado, 15 de agosto de 2009

Doze ramos na minha árvore...


(Parabéns filha)

Já plantei a minha árvore.
Ela cresce bela e vistosa.
É a mais bonita da floresta.
Vida…
Semente…
Plantado com a ajuda do vento.
Germinada com amor.
Sorri…
Chora…
Pelos mesmos pequenos nadas,
Pelos quais, um dia, eu também chorei.
Sinto que os seus ramos estão a ficar mais fortes.
Alarga horizontes.
Novas descobertas.
E eu
Tenho medo…
Que um dia a minha árvore
Se possa queimar.
Nas chamas que a vida
Teima em ascender.
Medo que não a possa continuar
A proteger.
Doze ramos…
Hoje está resplandecente a minha árvore
Nos seus doze ramos.


BF

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Sou

Por do sol sobre o mar de Porto Covo

terça-feira, 21 de julho de 2009

Ilha


Refúgio
Porto seguro
Em mar revolto
Ilha escolhida
Gaivota que prendes no teu olhar...
Solitário vaguear
Ilha perdida
Neste constante naufragar...
Ânsia de chegar
Ilha sonhada
Por circundantes marés embalada...
Ilha encantada
Lenda por jograis apregoada
Escondendo amares...
Ilha sofrida
Vergastado rochedo
Encanto e pecado
Ilha!
Parte cheia deste mar...
Nós!
Eterno baloiçar...
Jangada à deriva
Eterno marejar!
BF




segunda-feira, 13 de julho de 2009

Al-Berto.. porque me apetece


deus tem que ser substituído rapidamente por poe-
mas, sílabas sibilantes, lâmpadas acesas, corpos palpáveis,
vivos e limpos.

a dor de todas as ruas vazias.

sinto-me capaz de caminhar na língua aguçada deste
silêncio.
e na sua simplicidade, na sua clareza, no seu abis
-mo.
sinto-me capaz de acabar com esse vácuo, e de aca-
bar comigo mesmo.

a dor de todas as ruas vazias.

mas gosto da noite e do riso de cinzas. gosto do
deserto, e do acaso da vida. gosto dos enganos, da sorte e
dos encontros inesperados.
pernoito quase sempre no lado sagrado do meu cora-
ção, ou onde o medo tem a precaridade doutro corpo.

a dor de todas as ruas vazias.

pois bem, mário - o paraíso sabe-se que chega a lis-
boa na fragata do alfeite. basta pôr uma lua nervosa no
cimo do mastro, e mandar arrear o velame.
é isto que é preciso dizer: daqui ninguém sai sem
cadastro.

a dor de todas as ruas vazias.

sujo os olhos com sangue. chove torrencialmente. o
filme acabou. não nos conheceremos nunca.

a dor de todas as ruas vazias.

os poemas adormeceram no desassossego da idade.
fulguram na perturbação de um tempo cada dia mais
curto. e, por vezes, ouço-os no transe da noite. assolam-me
as imagens, rasgam-me as metáforas insidiosas, porcas. ..e
nada escrevo.
o regresso à escrita terminou. a vida toda fodida - e
a alma esburacada por uma agonia tamanho deste mar.

a dor de todas as ruas vazias.

Al-Berto