domingo, 6 de julho de 2008

Ardia...


“… Sentia as suas mãos nas costas da minha camisa, a puxarem-me: a força dos seus dedos a espetarem-se: garras cravadas na terra. Levantava-lhe mais o vestido e as minhas mãos seguravam-lhe a cintura, como se a sua pele fosse um incêndio, como se a sua pele fosse um incêndio, como se a sua pele fosse um incêndio. Ardia. Deixávamos de respirar ao mesmo tempo quando, num estante que talvez fosse eterno, que era eterno, entrava dentro dela. Então o peso do meu corpo apertava-se de encontro ao seu corpo. Eu a segurá-la no interior dos meus braços, debaixo de mim, e eu dentro dela, e ela, por dentro, a ser um incêndio, a ser um incêndio, a ser um incêndio. Ardia.”

Cemitério de Pianos
José Luís Peixoto
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Deixo-me influenciar muito pelas palavras…e, tento, sempre, alargar horizontes com todas as pessoas que cruzam o meu caminho. Assim, de tanto ouvir elogiar o livro "Cemitério de Pianos", de José Luís Peixoto fiquei desejosa de o ler. Ler não… neste momento estou a relê-lo. É que na primeira leitura que fiz, e talvez por não estar habituada à escrita de Peixoto, baralhei um pouco os narradores e as suas histórias de vida solitária que se cruzam numa catadupa de sentires...
Bem… toda esta conversa para justificar a transcrição desta passagem que achei divina.
BF