sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Porque tenho fases musicais...

Quero o silêncio do arco íris
Quero a alquimia das estações
Quero as vogais todas abertas
Quero ver partir os barcos
Prenhes de interrogações
Amo o teu riso prateado
Como se a lua fosse tua
Vou pendurar-me nos teus laços
Vou rasgar o teu vestido
Eu quero ver-te nua
Vivemos no tempo dos assassinos
Tempo de todos os hinos
Ouvimos dobrar os sinos
Quem mais jura
É quem mais mente
Vou arquitectar destinos
Sou praticamente demente...
Eu quero ver-te alucinado
Eu quero ver-te sem sentido
Sem passado e sem memória
Quero-te aqui no presente
Eternamente colorido
Porque abomino o trabalho
Se eu trabalhasse estava em greve
Se isto não te disser tudo
Arranja-me um momento mudo
O menos possível breve
Vivemos o tempo dos assassinos
Tempo de todos os hinos
Ouvimos dobrar os sinos
Quem mais jura é quem mais mente
Vou arquitectar destinos
Sou praticamente demente...
Amo o teu riso prateado
Como se o Sol só fosse teu
Vou pendurar-me no teu laço
Amachucar-te essa camisa
Como se tu fosses eu
Como se tu fosses eu
Como se tu fosses eu

Jorge palma
(foto da menina)

domingo, 23 de novembro de 2008

Então é Natal


“Adoro este espírito de natal”.
Esta frase foi-me dita, ontem, pela minha filhota envolvidas que estávamos no espectáculo de inauguração da árvore de natal Zon no Alto do Parque Eduardo VII.
Também eu sempre gostei do espírito de natal. Só que cada vez mais o natal começa a ser uma época de lembranças. Recordações de outros natais vividos.
Faltam-me tantas pessoas...
Essas que me ensinaram o verdadeiro sentido do espírito de natal. Natais mais pobres de presentes mas tão cheios de carinho. Em que o amor era expresso no olhar e não no valor por debaixo do embrulho com um grande laçarote.
Quando criança encontrar umas guloseimas dentro do sapatinho, que deixava junto à lareira, era uma verdadeira festa. Sabia que não poderia ter mais que isso. Mas no fundo tinha tanto tanto...
Tinha os alicerces ao meu lado. Aqueles que hoje me faltam.
Mas porque tenho que passar esses valores, esse espírito de natal para a minha papoilinha, vou olhar para o alto, mandar-lhes um sorriso e continuar com um brilho no olhar.
Já cheira a Natal.

BF

domingo, 16 de novembro de 2008

Nada mais que palavras...

Da próxima vez…

Planifica os sentires para que não ultrapasses etapas;

Há palavras sagradas que não devem ser ditas em vão;

Cola os sentimentos que te rasgaram e guardaste na gaveta,

Antes de chegares.

Do outro lado está um coração igual ao teu.

Ainda com restos de cola em seu redor,

De tanto se tentar consertar…

Quando sonhares

Tenta perceber se mais alguém está a sonhar,

Contigo, no mesmo espaço temporal.

Para que... nunca acorde num sonho findo.

É que mesmo ficando com mais lascas espalhadas,

Há quem acredite…ainda,

Que vale mesmo a pena sonhar!

BF
(foto da menina. Campainhas, apertando a extremidade dá para fazer estalinhos na cabeça de quem está perto. Uma das minhas brincadeiras de infância)

domingo, 9 de novembro de 2008

A NEVE /Serra da Estrela

No dia 2 de Novembro a Serra da Estrela estava assim................. Branca e leve, branca e fria...



Batem leve, levemente,
como quem chama por mim...
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim...

É talvez a ventania;
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento, com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!
E que saudade, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
de uns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
- depois em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
sofra tormentos... enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na natureza...
– e cai no meu coração.

Augusto Gil - Luar de Janeiro, 1909

domingo, 2 de novembro de 2008