quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Balada de Lisboa



Em cada esquina te vais
Em cada esquina te vejo
Esta é a cidade que tem
Teu nome escrito no cais
A cidade onde desenho
Teu rosto com sol e Tejo

Caravelas te levaram
Caravelas te perderam
Esta é a cidade onde chegas
Nas manhãs de tua ausência
Tão perto de mim tão longe
Tão fora de seres presente

Esta e a cidade onde estás
Como quem não volta mais
Tão dentro de mim tão que
Nunca ninguém por ninguém
Em cada dia regressas
Em cada dia te vais

Em cada rua me foges
Em cada rua te vejo
Tão doente da viagem
Teu rosto de sol e Tejo
Esta é a cidade onde moras
Como quem está de passagem

Às vezes pergunto se
Às vezes pergunto quem
Esta é a cidade onde estás
Com quem nunca mais vem
Tão longe de mim tão perto
Ninguém assim por ninguém


Manuel Alegre, in "Babilónia"

domingo, 23 de agosto de 2009

Momentos


Recuo
Passo ao lado do que sinto
A vida condiciona-me a forma e o querer
Preciso do tempo
Aquele
Que deixei passar sem o querer sentir
Mas esse passou
Já não o consigo recuperar
Hoje
Tento viver novos momentos
Projectados no espelho do passado
Reflexo do sonho que pensava realizar
Sonho
Que se tornou difuso
Nas memórias de tantas horas
De infindável espera
Matei-o
Nas águas turvas em que bebi
Pequenas gotas
Na sofreguidão da secura desta vida
O olhar
Que não consegue captar
O brilho das estrelas
Cintilantes no firmamento
E o coração
Que sente sempre a melancolia
De uma noite de escuridão
Atrás de umas tantas que passaram
E tenho sede
E fome de quer
Agarrar uma nova claridade
Iluminar este viver

BF
Imagem Bigmac - Olhares.com

sábado, 15 de agosto de 2009

Doze ramos na minha árvore...


(Parabéns filha)

Já plantei a minha árvore.
Ela cresce bela e vistosa.
É a mais bonita da floresta.
Vida…
Semente…
Plantado com a ajuda do vento.
Germinada com amor.
Sorri…
Chora…
Pelos mesmos pequenos nadas,
Pelos quais, um dia, eu também chorei.
Sinto que os seus ramos estão a ficar mais fortes.
Alarga horizontes.
Novas descobertas.
E eu
Tenho medo…
Que um dia a minha árvore
Se possa queimar.
Nas chamas que a vida
Teima em ascender.
Medo que não a possa continuar
A proteger.
Doze ramos…
Hoje está resplandecente a minha árvore
Nos seus doze ramos.


BF