segunda-feira, 13 de julho de 2009

Al-Berto.. porque me apetece


deus tem que ser substituído rapidamente por poe-
mas, sílabas sibilantes, lâmpadas acesas, corpos palpáveis,
vivos e limpos.

a dor de todas as ruas vazias.

sinto-me capaz de caminhar na língua aguçada deste
silêncio.
e na sua simplicidade, na sua clareza, no seu abis
-mo.
sinto-me capaz de acabar com esse vácuo, e de aca-
bar comigo mesmo.

a dor de todas as ruas vazias.

mas gosto da noite e do riso de cinzas. gosto do
deserto, e do acaso da vida. gosto dos enganos, da sorte e
dos encontros inesperados.
pernoito quase sempre no lado sagrado do meu cora-
ção, ou onde o medo tem a precaridade doutro corpo.

a dor de todas as ruas vazias.

pois bem, mário - o paraíso sabe-se que chega a lis-
boa na fragata do alfeite. basta pôr uma lua nervosa no
cimo do mastro, e mandar arrear o velame.
é isto que é preciso dizer: daqui ninguém sai sem
cadastro.

a dor de todas as ruas vazias.

sujo os olhos com sangue. chove torrencialmente. o
filme acabou. não nos conheceremos nunca.

a dor de todas as ruas vazias.

os poemas adormeceram no desassossego da idade.
fulguram na perturbação de um tempo cada dia mais
curto. e, por vezes, ouço-os no transe da noite. assolam-me
as imagens, rasgam-me as metáforas insidiosas, porcas. ..e
nada escrevo.
o regresso à escrita terminou. a vida toda fodida - e
a alma esburacada por uma agonia tamanho deste mar.

a dor de todas as ruas vazias.

Al-Berto

5 comentários:

Maria disse...

Este Al-Berto era único... e como sofreu...
"a dor de todas as ruas vazias" é tão forte quanto a poesia dele.

Quero ver-te a sorrir, Papoila.
Beijinhos

lili laranjo disse...

vim deixar um beijinho

Papoila
há sempre muitas conchas perdidas... só espero que encontrem sempreum Salvador.
Beijos

argumentonio disse...

e que mais podemos querer?

um blog debruado a poesia e textos significativos, fotografias que valem a pena e uma gaivota de invejar na adaptação ao xisto de tantos perigos e prazeres que enfeita de mistérios e bravura a nossa costa, um fado sentido, sofrido e adocicado na voz terna e feminina de Ana Moura...!

e o mais que se verá quando voltar!!

parabéns e até breve!!!

;->>>

poetaeusou . . . disse...

*
e o vazio das ruas,
enchidas por papoilas,
albergam palavras,
Al Bertando verdades,
,
linda
obrigado pela partilha,
,
marés de afectos, deixo,
,
*

Alice Matos disse...

Dá que pensar...

Beijinho para ti...