No dia 2 de Novembro a Serra da Estrela estava assim................. Branca e leve, branca e fria...
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim...
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim...
É talvez a ventania;
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento, com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!
E que saudade, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
de uns pezitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
- depois em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos... enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na natureza...
– e cai no meu coração.
Augusto Gil - Luar de Janeiro, 1909
como quem chama por mim...
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim...
É talvez a ventania;
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento, com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!
E que saudade, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
de uns pezitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
- depois em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos... enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na natureza...
– e cai no meu coração.
Augusto Gil - Luar de Janeiro, 1909
7 comentários:
Estava como deve estar: BELA!!!!
A neve veio mais cedo este ano.
*******
Há quanto tempo não lia este poema de Augusto Gil
... e que saudades, meu deus...
Obrigada, Papoila.
Beijos
*
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!
,
augusto gil, pois . . .
,
jinos de s.martinho,
,
*
Este poema de Augusto Gil foi talvez o segundo poema que os rapazes e raparigas da minha geração aprenderam. O primeiro vinha na Cartiha Maternal e dizia assim. "Andava um dia em pequenino, nos arredores de Nazaré, em companhia de S. José, o Deus Menino, o Bom Jesus...."
A Balada da Neve faz-me sempre recuar aos meus 7anos e como ve-me sempre.Obrigado por ma teres recordado. Um beijo
Ofereces o poema e fazes inveja com a branca e fria neve da Estrela...
Tristeza à parte, as correrias no chão gelado são alegrias da criançada e recordações que ecoam em cada recanto da serra...
Faz tempo que lá não vou!...
Tomei a liberdade de conhecer este Campo em Flor e deparei com umas fotos que afloram a temperatura do dia e fazem arrepiar todas as sílabas do espantoso poema...
Gostei de cá estar!
Sempre belos, a neve e este poema!
Um abraço e bom fim-de-semana.
Tantas coisas boas no mesmo post: neve, brincadeiras na neve e a balada mais bonita da poesia portuguesa...
pois é, quem sabe se ficámos na mesma fila no concerto do Jorge Palma... são os acasos da vida...
Muitos beijinhos!!!
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